Muro dos Bacalhoeiros - Porto Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 64x54cm
O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.Agustina Bessa-Luís
Há uma certa tendência para considerar a nossa cidade, a nossa terra, a nossa rua como o centro do Universo, o local mais... mais... umbilicus mundi. Eu não dizia que o melhor do Porto era a auto-estrada para Lisboa mas, para ser sincero, esta cidade não me entusiasmava especialmente.
Até que...
Comecei a pintar e um dia fui ao Porto, para ver uma exposição na Fundação de Serralves. A exposição chamava-se Amadeo Sousa-Cardoso/Piet Mondrian, em que se apresentava o diálogo entre dois pintores que, apesar de nunca se terem conhecido, tiveram um percurso muito semelhante, abandonando o seu país natal para viver em Paris, a cidade onde se concentravam os movimentos vanguardistas da sua época.
Cheguei de manhã, bem cedo e resolvi passar pela Ribeira. Disse Aquilino:
“Este trecho do Porto com fragatas a chocalhar contra o cais, a selva de mastros, o mercado de galinhas, truculências, aleijões, uma mulher que mostra a perna monstruosa com elefantíase, tísicos de tigela à banda, lembra as velhas cidades hanseáticas com todo o seu tropo-galhopo de coisas”.
E depois as casas carregadas de janelas/olhos, cores/lantejoulas, pedras/musgo... e depois o rio Douro... e depois os barcos rabelo... meu Deus, não tinha olhos, ouvidos, nariz, cérebro, rolos de máquina fotográfica, para guardar tudo o que me cercava... mas tudo me ficou agarrado à pele como a tinta indelével duma tatuagem.
Da minha vertigem pela Ribeira do Porto, resultou uma das telas de que mais gosto, e que por isso continua em minha casa: esta que mostra o Muro dos Bacalhoeiros.
É uma obra em que utilizei cores fortes, com as suas complementares bem próximas, para salientar a força que emana daquelas pedras. Não satisfeito com o resultado obtido, procurei reforçar essa sensação com a mistura de areia na tinta, criando o aspecto rude e rústico das rochas, que falam connosco como as castiças gentes do Porto.
Nesta obra, as janelas das casas deixam de ser elementos “apenas” decorativos: estão humanizadas com a sugestão de roupas penduradas e vasos de flores que lembram as pessoas que as habitam.
Sei por experiência própria do mau gosto associado à escolha das molduras para as obras de arte. Não sei se por força da sugestão dos vendedores, que mais do que servir os clientes, querem vender as mais caras, ou por pressão do dono que quer valorizar uma obra que deve valer por si própria. Há casos em que a moldura fica mais cara do que a peça que contém.
Para este quadro, fui eu que fiz a moldura: cortei e pintei a madeira com a mesma tinta que utilizei na tela. Utilizei o azul ultramarino (deep), misturado com um pouco de vermelho de cádmio, para o escurecer ao mesmo tempo que o torna menos frio.
É este Porto sentido que eu pretendi retratar. Sempre que passo por esta obra não resisto a dar-lhe uma nova mirada. E ela retribuiu como uma amiga fiel: sempre lhe descubro novos encantos!
domingo, 21 de novembro de 2010
d´Arte - Conversas na Galeria VIII
[Postado por A.Tapadinhas]
Postado por A.Tapadinhas às 7:25:00 AM
Marcadores: d´Arte - Conversas na Galeria
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5 comentários:
António
Mais uma tela cheia de sentido e sentimento.
Grande beijo :-)
Anne
Antonio
Vi-me lá, Porto amigo!
Pulsar mais rápido do velho peito:
Lembrança.
Imagem para nunca mais e esquecer.
Abraço amigo
Lemos
Antonio
Deixe seu endereço lá no meu Blog. Quero mandar meus novos livros.
Grato
Lemos
Anne: Resta-me agradecer-te as palavras e retribuir-te o
Beijo,
António
Jorge Lemos: É bom manter as lembranças que valem a pena...
As do Porto são para valer!
Vou deixar o endereço, como solicitado. Agora, o agradecimento é meu!
Abraço grande,
António
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