Vai um copo? Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 100x120cm
Fado, Malhoa, e o que mais adiante se verá...
Estava a jantar com minha mulher,
algo que não faço tantas vezes como devia
num restaurante de que eu gosto muito, porque para além da excelente qualidade da comida,
o que por si só, já seria um bom motivo para o frequentar
também aprecio o bom gosto das telas expostas,
são todas minhas
quando o meu amigo Bernardo, dono do restaurante,
curiosamente, quando estive no Rio de Janeiro, fiz questão de passar um dia na “Ilha do Bernardo”, para lhe trazer uma lembrança da “sua” ilha
me pediu para atender um senhor, construtor civil, que queria fazer-me um pedido.
normalmente é para ver se eu concedo um desconto nalguma obra exposta
Acedi, sem grande esperança. Afinal, estava redondamente enganado com as suas intenções!
acontece aos melhores!
O senhor queria que eu lhe fizesse uma tela, grande,
grande – substantivo, não, grande – adjectivo
para colocar na adega da sua casa, que seria inaugurada dentro de alguns meses.
Quando comecei a dar a desculpa habitual para me esquivar a aceitar compromissos,
estilo: “Não tenho tempo! Estou muito ocupado"
o senhor não quis ouvir as minhas razões
era construtor civil, lembram-se?
e disse-me que até tinha ideia do que queria. Aí eu fiquei atento!
construtor civil com ideias, coisa estranha!
Queria que eu fizesse um quadro ao estilo de Malhoa,
José Malhoa, pintor português, naturalista, 1855-1933
com aquela conhecidíssima figura da sua obra “Festejando o S. Martinho”.
repetida em reproduções baratas, ad nauseum
Achei um bom desafio: não tinha muita paciência para pintar como Malhoa,
à data da sua morte o seu estilo já era contestado pelos mais novos
mas como também não tinha dinheiro, resolvi aceitar a encomenda.
fiz mal como se verá!
Para não fazer uma cópia do óbvio, resolvi criar uma composição com duas obras de Malhoa e seleccionar cartazes da época
para o meu ego não ficar muito ferido
para pregar nas paredes da tasca onde se iria passar a cena.
Triste!
Para dar algum realismo às paredes, adicionei areia à tinta,
as pintinhas, suponho que parecem aquelas coisas que as moscas deixam nas paredes
e o claro-escuro do interior, mais escuro ainda, como é costume para ouvir os acordes plangentes da guitarra e os sons maviosos do cantor de fado.
e ninguém notar se quisermos dormir uma soneca!
Quando a obra ficou pronta, combinei com o meu amigo Bernardo, colocá-la no restaurante e o senhor construtor passar por lá para a poder apreciar em todo o seu esplendor. Adorou-a! Mas
há sempre um mas
não lhe convinha fazer mais despesas, naquela altura!
a crise toca a todos, não é? Menos aos pintores, acho eu...
E assim fiquei com uma obra que está exposta no “Restaurante Napolitano” do meu amigo Bernardo. Acreditam que já foi mandada guardar por um senhor que teve de sair para os Açores e ainda não apareceu?
Até hoje!
sábado, 30 de outubro de 2010
d´Arte - Conversas na Galeria V
[Postado por A.Tapadinhas]
Postado por A.Tapadinhas às 3:30:00 AM
Marcadores: d´Arte - Conversas na Galeria
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8 comentários:
Meu amigo, António
Pois, eu amei este quadro.
Acredito que ele tenha sido premonitório e retrata você e seu amigo Bernardo em seu restaurante a esperar o "liso" comprador!
Espetacular! Como sempre.
Um abraço,
Walmir
totalmente Van Gogh!
totalmente António!
Lindo!
Walmir: A sua maneira positiva de encarar a vida define o optimismo com que encara o que lhe acontece.
No meu caso, devo dizer que procuro retirar ensinamentos destas pequenas coisas que acontecem no nosso quotidiano...
Abraço, de centauro, claro!
António
Udi: Totalmente Udi: sorriso e palavras que aquecem a alma!
Beijo,
António
Antonio
Cheguei tarde aqui... Que tela mais cheia de significado!!!! Lindo.
Beijos meu amigo, vou sumir por uma semana. Cuide-se!
Anne
Acabamos de descobrir a identidade da Mulher Invisível!!!
(rsrsrs)
Anne: Eu acho que há pessoas que, graças a um dom que eu não quero classificar, estão sempre presentes...
Já guardei o meu quinhão de beijos!
Beijos,
António
Walmir: Mais do que mulher invisível, eu diria que é omnipresente...
:)
Abraço,
António
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