sábado, 30 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria V

[Postado por A.Tapadinhas]


Vai um copo? Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre tela 100x120cm

Fado, Malhoa, e o que mais adiante se verá...

Estava a jantar com minha mulher,
algo que não faço tantas vezes como devia
num restaurante de que eu gosto muito, porque para além da excelente qualidade da comida,
o que por si só, já seria um bom motivo para o frequentar
também aprecio o bom gosto das telas expostas,
são todas minhas
quando o meu amigo Bernardo, dono do restaurante,
curiosamente, quando estive no Rio de Janeiro, fiz questão de passar um dia na “Ilha do Bernardo”, para lhe trazer uma lembrança da “sua” ilha
me pediu para atender um senhor, construtor civil, que queria fazer-me um pedido.
normalmente é para ver se eu concedo um desconto nalguma obra exposta
Acedi, sem grande esperança. Afinal, estava redondamente enganado com as suas intenções!
acontece aos melhores!
O senhor queria que eu lhe fizesse uma tela, grande,
grande – substantivo, não, grande – adjectivo
para colocar na adega da sua casa, que seria inaugurada dentro de alguns meses.
Quando comecei a dar a desculpa habitual para me esquivar a aceitar compromissos,
estilo: “Não tenho tempo! Estou muito ocupado"

o senhor não quis ouvir as minhas razões
era construtor civil, lembram-se?
e disse-me que até tinha ideia do que queria. Aí eu fiquei atento!
construtor civil com ideias, coisa estranha!
Queria que eu fizesse um quadro ao estilo de Malhoa,
José Malhoa, pintor português, naturalista, 1855-1933
com aquela conhecidíssima figura da sua obra “Festejando o S. Martinho”.
repetida em reproduções baratas, ad nauseum
Achei um bom desafio: não tinha muita paciência para pintar como Malhoa,
à data da sua morte o seu estilo já era contestado pelos mais novos
mas como também não tinha dinheiro, resolvi aceitar a encomenda.
fiz mal como se verá!
Para não fazer uma cópia do óbvio, resolvi criar uma composição com duas obras de Malhoa e seleccionar cartazes da época
para o meu ego não ficar muito ferido
para pregar nas paredes da tasca onde se iria passar a cena.
Triste!
Para dar algum realismo às paredes, adicionei areia à tinta,
as pintinhas, suponho que parecem aquelas coisas que as moscas deixam nas paredes
e o claro-escuro do interior, mais escuro ainda, como é costume para ouvir os acordes plangentes da guitarra e os sons maviosos do cantor de fado.
e ninguém notar se quisermos dormir uma soneca!
Quando a obra ficou pronta, combinei com o meu amigo Bernardo, colocá-la no restaurante e o senhor construtor passar por lá para a poder apreciar em todo o seu esplendor. Adorou-a! Mas
há sempre um mas
não lhe convinha fazer mais despesas, naquela altura!
a crise toca a todos, não é? Menos aos pintores, acho eu...
E assim fiquei com uma obra que está exposta no “Restaurante Napolitano” do meu amigo Bernardo. Acreditam que já foi mandada guardar por um senhor que teve de sair para os Açores e ainda não apareceu?
Até hoje!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Viva!

[Postado por Walmir Lima]


Viva!

Morre lentamente
Quem não viaja, quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente
Quem destroi seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente,
Quem se transforma em escravo do hábito, repetindo, todos os dias, os mesmos trajetos,
Quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma nova paixão e seu redemoinho de emoções que, justamente, resgatam o brilho dos olhos e os corações aos tropeços.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Viva,
Arrisque,

Não se deixe morrer lentamente!
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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria IV

[Postado por A.Tapadinhas]


Cenáculo Autor António Tapadinhas
Díptico Acrílico sobre Tela 2x60x100cm


Pormenor


Pormenor

Cenáculo, nome dado à sala, à reunião, em que Jesus Cristo celebrou a ceia. Por ext.
Reunião qualquer de pessoas unidas para um fim comum, especialmente sociedade ou grémio literário.


Quando um casal meu amigo me convidou para almoçar porque queriam falar comigo sobre um assunto importante, não fazia ideia de qual seria o tema da conversa. Durante o almoço foi crescendo a minha curiosidade que, finalmente, foi saciada na hora dos cafés. Tinham um espaço nobre da casa que queriam preencher com uma obra minha. Deixavam ao meu critério todos os pormenores: cor, técnica, estilo, tamanho... Aceitavam qualquer sugestão porque confiavam em mim...
Se não fossem meus amigos, a partir desse momento ficaria a considerá-los como tal: depositar no meu critério o preenchimento dum espaço do seu lar, com que iriam conviver para o resto da sua vida, mais do que uma prova de amizade, é uma prova de amor...
Poucas pessoas, os dedos de uma mão chegam para as contar, têm uma obra oferecida por mim, se descontar aquelas que ofereço para serem leiloadas para instituições de solidariedade. Fiquei marcado pelas lágrimas de uma aluna minha, que ofereceu uma das suas obras a um familiar, e foi surpreendida por a ter encontrado escondida na gaveta dum armário, na despensa. Não sei que maior ofensa se pode fazer ao trabalho de alguém, independentemente do seu valor artístico! Agora, aconselho os meus alunos a fazerem como eu: para desfazer dúvidas sobre o interesse de alguém sobre uma obra, peço um montante por ela, nem que seja simbólico. A reacção é sempre esclarecedora... Em qualquer altura, encontraremos a oportunidade de devolver a quantia recebida sem o amigo notar: no aniversário, no Natal... que pode ser quando quisermos.
Coloquei uma condição: teriam de me convidar para ir a sua casa, tomar um café e uma bebida. Claro que foi aceite, pois nem sequer era uma condição, era um prazer – disseram.
Passei parte do tempo num convívio do qual não tirei muito partido porque volta não volta, estava a pensar na principal motivação dessa minha visita. Registava mentalmente a cor da parede com luz, sem luz, na sombra, tomava nota do tom da mobília, das peças que envolviam toda a enorme sala comum, com a confortável lareira, e as portadas envidraçadas por onde jorrava a luz... Ah! Falta dizer que o local onde a peça seria colocada era na parede fronteira à mesa, no espaço da sala de jantar.
Quando a tela ficou completa combinámos a entrega da obra, com a sua instalação no local onde iria morar. Pedi aos meus amigos que fossem brincar com o seu belo cão para o jardim enquanto eu colocava o díptico. Podem imaginar (se calhar não podem!) a minha angústia expectante quando eles voltaram para ver pela primeira vez a obra no local escolhido. Eu fiquei em êxtase com a sua reacção, talvez por contágio...
A Beleza reside no mundo das ideias e o Belo é identificado com a perfeição, com a verdade. A partir da beleza emanada por uma obra podemos chegar à beleza superior do Homem.
Uma vez por outra, é bom esquecer imperfeições...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ao Mestre, Com Carinho

[Postado por Walmir Lima]

Hoje é o Dia dos Professores

Minha homenagem a este que considero...

"O Maior dos Operários"


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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria III

[Postado por A.Tapadinhas]


YING – YANG Autor António Tapadinhas
Díptico Acrílico sobre Tela 2x100x60cm

Para melhor compreensão desta obra é necessário ter a noção do que significam estas palavras.
Segundo a concepção oriental, o universo era uno e sem movimento, até se ter cindido em duas espirais de energia, com dois princípios opostos, mas complementares entre si: Ying, o elemento feminino e Yang, o elemento masculino. Estes dois elementos primordiais são essenciais para manter o equilíbrio dinâmico do universo e são um conceito tão puro que se pode aplicar a qualquer coisa. Ying é escuridão e Yang é luz, Ying é lua e Yang é sol, Ying é água e Yang é fogo... Tudo que existe contém estes dois princípios, portanto qualquer discriminação entre eles não faz qualquer sentido, porque um não existe sem o outro.
Esta obra foi criada para duas pessoas especiais (Ying e Yang) que habitavam um certo espaço. As suas cores reflectem a energia vital que uma sala de grandes proporções, com paredes brancas, precisa para tornar o ambiente acolhedor, caloroso, luxuoso, festivo... As suas dimensões foram estudadas para evitar que, em conjunto com o dinamismo das cores, se tornasse demasiado absorvente e dominadora.
Depois de analisar estes aspectos mais conceptuais, a execução foi simples.
Numa tela, Ying, estendi o amarelo cadmium medium hue, na outra, Yang, o vermelho cadmium hue. Reservei espaços iguais nas extremidades esquerda e direita, bem como na parte superior de cada uma das telas. A seguir pintei o vermelho sobre o amarelo, tendo o cuidado de deixar respirar esta cor, ou seja, deixar o observador sentir o amarelo, mesmo nas zonas cobertas pelo vermelho. Na outra parte do díptico, devido ao fraco poder de cobertura do amarelo, foi necessário adicionar um pouco de branco de titânio. Para compensar esta perda de intensidade, misturei um pouco de amarelo cadmium deep hue.
Esta obra é um elo de ligação entre estas duas pessoas, independentemente da distância que as separar...
Deixo a interpretação dos outros símbolos para a vossa fértil e criativa imaginação!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria II

[Postado por A.Tapadinhas]


A Grande Caminhada
Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 60x60cm

Esta obra ganhou vida por ela própria. A ideia inicial era, numa tela já pintada com cores ocre, texturada, com incisões horizontais espaçadas e verticais mais próximas, pintar séries de cores frias e quentes, no plano horizontal. Queria incutir no espectador uma sensação de grupos heterogéneos a caminhar, determinados, na obtenção de um objectivo misterioso. Este estudo serviria para preparar uma tela mais ambiciosa para uma bienal de prestígio – Prémio Vespeira. O problema foi que gostei tanto deste estudo que não me quis copiar. Na versão final, mais elaborada e de maiores dimensões, nem o título mantive. Esta tela continua comigo e não é mais um estudo – tem um lugar de destaque entre as obras que criei.
Representa a Grande Caminhada do Homem na descoberta do seu ADN.

sábado, 2 de outubro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria I

[Postado por A.Tapadinhas]


Título: Marionetas
Autor: António Tapadinhas
Técnica: Acrílico sobre papel
Dimensões: 31,2x24,0 cm
(clic sobre a imagem para ver pormenores)

Hoje é um dia especial! Inauguramos uma galeria de Arte com as condições ideais para receber os seus amantes. Sala nobre, ampla e bem iluminada, a que todos têm acesso, a qualquer hora, sempre grátis, sem qualquer restrição de idade, raça, religião ou indumentária.
Tem uma característica única: a sua acústica dá para ouvir as conversas e até os pensamentos dos seus visitantes…
A “d´Arte”, no Prozac Café, é inaugurada com o trabalho “Marionetas”, que está exposto, desde dia oito deste mês, na Casa da Cultura de Gdansk, cidade no norte da Polónia, onde se iniciou a revolução liderada por Lech Walesa. Nesta exposição estarão representados oito artistas polacos e oito portugueses, tendo como tema, KOLOROFON, a relação entre arte contemporânea e o universo pictórico da criança.
Pretende explorar as possíveis e subjectivas relações que podem existir entre os criadores e um universo infantil que tem marcado a criação visual e plástica desde o início do século XX.
Já sabem: Vernissage todos os sábados!