segunda-feira, 8 de novembro de 2010

d´Arte - Conversas na Galeria VI

[Postado por A.Tapadinhas]


Gigante Caído Acrílico sobre Tela 30x40cm
Autor António Tapadinhas

Os atenienses, apesar dos seus doze deuses principais, com receio de ferirem susceptibilidades, criaram um templo dedicado ao deus desconhecido. Se não serviu para mais nada, a sua existência ficou justificada com a obra-prima, “A um Deus Desconhecido”, de John Steinbeck.
Nesta novela telúrica, panteísta, Joseph Wayne, para cumprir o desejo do pai, vai viver para uma terra de vales imensos e de majestosas árvores. Depois da sua morte, Joseph acredita que a alma do pai se recolheu no imponente carvalho, junto da casa. A partir desse momento, a sua vida fica ligada umbilicalmente, de uma forma mística, ao destino da árvore. Como quase sempre acontece, é por uma boa razão, em nome de Deus, para o salvar do fogo do inferno, que seu irmão assassina o velho carvalho, cortando-lhe as raízes. O sentimento de tragédia, presente nas páginas da novela, começa a adensar-se com a seca que invade a terra e atinge o seu paroxismo quando Joseph se suicida. Com “o sangue a gorgolejar das artérias abertas”, ele diz: “Eu sou a terra e sou a chuva. A erva brotará de mim dentro em pouco.”
Num passeio pelos sapais do Tejo, perto de minha casa, logo a seguir às ruinas do Moinho da Charroqueira, encontrei um sinal das intensas chuvadas e fortes ventos: um pinheiro-manso (Pinus pinea) caído, suportado, de um lado, pelas suas raízes, e do outro, como que amparado por braços amigos, com as ramagens na terra. Lembrei-me de imediato da árvore assassinada em nome de Deus.
“E a tempestade recrudesceu e, com um enorme cachoar de águas, cobriu de sombra o mundo.”
Eu sou mais optimista.
Foi assim, cheio de cor, que vi o velho gigante…

Texto de António Tapadinhas

7 comentários:

Udi disse...

...e o gigante repousa sob um céu maravilhoso.

Walmir Lima disse...

A demonstrar que, no mosaico da vida, todas as peças se encaixam e tanto os grandes e fortes carvalhos quanto os altivos pinheiros-mansos um dia se curvam e se apoiam nos singelos arbustos.

Belo retrato, meu amigo, nos ensina que pintar não é apenas misturar cores!

A.Tapadinhas disse...

Cada um de nós tem um céu à sua medida...

Beijo,
António

A.Tapadinhas disse...

Walmir: O resultado da soma da nossa vontade individual num grupo tem tendência a ser superior a uma mera adição. Aí, a matemática não funciona:
Juntos, somos mais (e melhores)!

Quem sabe, com as cores não se passará o mesmo?
:)
Abraço,
António

Anne M. Moor disse...

António

Esta tua árvore me conta histórias! Ando passeando, por isso o sumiço.

Beijos
Anne

A.Tapadinhas disse...

Anne: É uma combinação insuperável: as asas da tua imaginação com as asas dos aviões!

Estar reformada também ajuda...
:)
Beijo,
António

Anne M. Moor disse...

Com certeza rsrsrsrsrs!!

bjinhos